Oração e Revelação
Em
seu livro, With Christ in the School of Prayer [Com Cristo na Escola da
Oração], Andrew Murray escreve: “Ler um livro sobre oração, ouvir
palestras e falar sobre ela é muito bom, mas não ensinará você a orar.
Você não consegue nada sem exercício, sem prática”. Essa é a coisa mais
tola que se pode dizer. Se ler, ouvir e falar sobre oração “não ensinará
você a orar”, então como essas atividades são muito boas? Se eu não
consigo “nada” sem prática, então por que eu devo ler seu livro?
É suposto que seu livro contenha discernimentos sobre oração extraídos
das instruções e exemplos de Jesus. Mas a declaração citada implica que
“prática” ou experiência é um professor melhor do que as palavras e atos
de Cristo. O horror da situação fica evidente quando percebemos que
parece que a maioria das pessoas compartilha da visão de Murray sobre
aprender as coisas espirituais. Elas dizem que você pode ler sobre ela e
falar sobre ela, mas a experiência é o melhor professor. Contudo, se a
experiência é o melhor professor, então Jesus não é o melhor professor, e
a Escritura não é a melhor fonte de informação. Isso é blasfemo!
A verdade é que a experiência é o pior professor, especialmente quando
diz respeito a aprender coisas espirituais. Nossa cultura exalta o
aprendizado por experiência, e muitos cristãos assumem tal visão, embora
ela contradiga a sua professa fidelidade a Deus e à Escritura. Contra
essa visão popular, eu urjo que devemos destronar a experiência e
exaltar a revelação, isto é, as palavras da Escritura. Isso significa
que ler um livro pode realmente lhe ensinar muitas coisas sobre oração, e
visto que desejo mostrar a você algumas das coisas que a Escritura
ensina sobre o assunto, faz sentido que eu tenha escrito esse livro.
Ler sobre oração não é o mesmo que orar, de forma que não estou dizendo
que você deve ler sobre oração em vez de orar. Mas no que diz respeito a
aprender sobre oração, devemos ler, falar e pensar sobre ela. Dito
isso, talvez a maioria das pessoas de fato devesse orar menos e
dispensar mais tempo lendo, falando e pensando sobre oração. A
reverência exige de nós o aprendizado de como nos aproximar de Deus da
maneira prescrita por ele, mas a partir da Escritura, não da experiência
ou da observação.
Podemos aprender a partir dos “exemplos” de
Jesus somente no sentido de que as palavras da Escritura nos dizem sobre
a vida de oração de Cristo, de forma que ainda aprendemos através da
leitura, do ouvir e do pensar, e não através da experiência ou
observação. A Bíblia ensina que devemos ser exemplos do que ela ensina,
mas isso é muito diferente de dizer que devemos ensinar por exemplos.
Visto que não somos perfeitos, como uma pessoa pode saber o que imitar e
o que não imitar de nós, a menos que ela já saiba o que é certo e o que
é errado por ler, ouvir e pensar sobre as palavras da Escritura?
Então nossos exemplos servem, na melhor das hipóteses, como
encorajamento para contemplar e seguir as palavras da Escritura, de
forma que os exemplos em si não transmitem informação sobre como um
cristão deve viver. A informação ensinada vem somente da Escritura, não
da experiência ou de exemplos. Não há exemplos infalíveis dos quais
passamos aprender hoje, excetos aqueles descritos e interpretados pelas
palavras da Escritura. Embora Jesus não tivesse pecado, de forma que
tudo o que ele fez era justo, quando deu um exemplo em João 3.15, os
discípulos não o entenderam até que ele lhes ensinasse por palavras.
Assim, a lição estava nas palavras, não no ato em si. O exemplo em si
serve, na melhor das hipóteses, para ilustrar as palavras. Da mesma
forma, 1Coríntios 10.6 refere-se aos israelistas sob Moisés como
exemplos, mas a lição estava na interpretação que Paulo fazia das suas
vidas.
Vincent Cheung - Oração e Revelação
Projeto Castelo Forte
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